quarta-feira, 4 de abril de 2012

Mudanças na segurança

Todos os policiais, reformados ou na aposentadoria, costumam dizer: "Eu saí dela (da polícia), mas ela não saiu de mim". E nisso, de um lado, está a saudade; de outro, uma declaração de amor à causa, ao ideal de servir, que exige um sério compromisso do homem e do profissional, o que fica mesmo naqueles que tropeçam na caminhada.

Falo no assunto em razão das mudanças ocorridas na Secretaria de Estado da Defesa Social (Seds), incluída a do secretário Lafayette Andrada. Interessa à nossa segurança, pois que tal órgão, com seu pomposo título - se não engano criado pelo ex-governador Aécio Neves -, seria destinado a ditar a política comportamental do Estado, relativa às áreas de defesa social, que vão além do sistema de segurança pública, como, aliás, aqui em O TEMPO já disse o coronel da Polícia Militar Amauri Meireles, que conhece do assunto.

Só que Sua Excelência, na origem de seu ato, já imaginava extinguir a Secretaria de Estado da Segurança Pública, berço secular da Polícia Civil, e daí promover a "união" das polícias Civil e Militar. Então, solucionar os problemas da segurança nossa de cada dia.

A medida em parte era boa. Porém, pecava na extinção da Sesp/MG. E, mais ainda, na ideia do termo "união" das duas forças de segurança, coisa que existia antes do nascimento do governador Tancredo. E sempre existirá. O que não cabe é unificação. A integração, aí sim. Com comandos independentes, mas agindo num só ideal.

Para a Seds foram respeitáveis nomes. Mas a toda poderosa, que deveria cuidar de área imensa e dificílima, caiu no canto das sereias. Talvez o comando preferiu cuidar diretamente do sistema de segurança pública. E assim aniquilou a chefia da Polícia Civil, o comando da Polícia Militar e a direção dos serviços penitenciários.

O poder é muito sedutor. E tanto que nem as teorias de Sapori e Beato ("estrangeiros na área") foram entendidas na Seds, mesmo que falassem com autoridade e competência. Sem desmerecê-los, hei de lembrar o professor Welber Braga, que vivia no meio policial antes deles, e pregava o compromisso profissional e a ação, antes de se pensar nas estatísticas manipuladas e outras criações para a mídia. E esta é a regra.

Silenciados, os comandos das forças de segurança e desmotivados seus agentes, a polícia sumiu e o crime cresceu. Então, o professor Antonio Anastasia tirou de cena o deputado, e colocou em seu lugar o procurador de Justiça Rômulo Ferraz. Aí o destacado membro do Ministério Público mineiro, em sua posse, fala dos velhos temas como seu objetivo. E diz que será "muito mais presente"(?). Parece a mesma coisa (O TEMPO, 20.3.2012).

No computador e no discurso tudo é possível. Porém, para fazer funcionar as forças de segurança - e combater o crime - é importante uma liderança respeitada por todos os policiais militares, civis e corpo penitenciário. E pela sociedade. Assim temida pelos bandidos, se necessário. Coisas que, como a paz e a segurança, não acontecem por acaso.

Fonte: matéria publicada no Jornal O tempo
03/04/2012

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